Muito tempo atrás, alguns povos, tradicionalmente, faziam bolos de mel em homenagem a uma certa deusa. Após algum tempo, os bolos eram então oferecidos às pessoas mais importantes de determinadas sociedades. Depois de mais um passo na história, os bolos passaram a ser feitos para qualquer pessoa, anualmente, como uma nova (ou transformação de uma antiga) tradição.
Hoje em dia, todos os anos, as pessoas fazem algumas solenidades (ou festividades (ou simples parabenizações)) umas às outras quando estas completam mais um ano de vida. Mas por quê?
Quando se faz essa pergunta a quase qualquer pessoa, ela responde "é pq completou mais um ano de vida" ou ainda "é pq fez X anos". Mas será que isso, de alguma forma, traz algum mérito para quem está "fazendo aniversário"?
Dois fatos permeiam essa situação: por um lado, a pessoa já viveu X anos; por outro, ela está X anos mais próxima do "Fim de todos os milagres". Sob esses dois ângulos, ao meu ver, o que reflete maior significado (ou significado mais marcante) é o segundo, já que é o [tempo] que ainda se resta viver...vive...viveu (isso foi só pra mostrar a efemeridade da vida...enfim).
Partindo desse pricípio, consideraríamos o aniversário como um evento tradicional comemorativo que simboliza um ano a menos de vida que ainda resta ser vivido, que "parece" ser semanticamente mais importante que "um ano a mais de vida que já foi vivido", sendo que não faz sentido este argumento dar liberdade à pessoa ser parabenizada ou até mesmo receber presentes. Parece até que foi Darwin que inventou essas festividades: "Você resistiu por mais um ano e não foi eliminado pela seleção natural. Uau, parabéns, merece um PlayStation 3".
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Voltando ao pensamento do significado mais importante (o de que aniversário seria a data que simboliza um ano a menos de vida que resta). Para poder interpretar isso de forma positiva ou negativa, precisamos primeiro analisar nossa posição a respeito da própria vida: a vida é boa? Se sim, deveríamos ficar tristes por termos "perdido" mais um ano de vida. Sendo assim, comemorariam os que se sentem infelizes com a vida (e um grupinho especial guardado para daqui a pouco).
Há ainda pessoas que, após uma determinada idade, podem reclamar de pseudo-velhice, ficarem tristes, depressivas, entrarem em crise de 30, 40, 50, 60 (aqui não é exercício de numeral, mas enfim...). As pessoas pensam que não aproveitaram o suficiente, ou queriam que o tempo nunca tivesse passado. Essas pessoas se encaixam nas descritas como as que devem ficar tristes em aniversários (talvez não no momento, mas alguns dias depois, assim que cair a ficha de que "entrou na casa dos X anos"). As que ficam felizes, ao meu ver, podem ser estar de dois tipos: as que realmente não gostam de viver (estas precisam mesmo de ajuda, ou sei lá, talvez até, lá no fundo, de alguma forma, tenham um pouco de razão, mas enfim...) ou as que aproveitam cada segundo da vida como se fosse o único, aquela que não se arrepende de nada que tenha feito durante a vida e que diz ter aproveitado ao máximo todas as fases dela (que, por exemplo, não sente falta da infância por se certificar que aproveitou essa fase, assim como todas as outras). Este é o grupinho que eu havia mencionado. Aproveitar as diferentes fases da vida (ou a vida como um todo) já é assunto para outro tópico. (Aproveitar é subjetivo, relativo)
Pessoas como a do último exemplo são meio difíceis de se encontrar, mas elas nos reservam uma grande lição: aproveitar o dia como se fosse o último lhes garantirá satisfação ao recordarem do passado e viverem (felizes) o presente, até porque o futuro...presente...passado...foi inesquecível.
"A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
– Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres." (Obrigado, Manu Flag :D)